sábado, 11 de maio de 2013

Generalizações

Esta quinta-feira não foi um dia fantástico. Tenho andado cansada, a dormir uma média de 5h30 por noite e para ajudar tive uma tarde como direi? Irritante, frustrante, revoltante. Fui assistir a uma conferência em Cascais sobre o talento e os recursos humanos no turismo. Fico indignada quando oiço profissionais da hotelaria a acharem normal pessoas com formação superior na área terem o mesmo nível salarial que alguém com o secundário. Como é que este país pode ir para a frente assim? As competências são uma mais-valia para uma empresa e têm um preço, as diferenças devem existir. O salário mais do que uma fonte de sobrevivência, é uma fonte de motivação e de reconhecimento.

Como se já não fosse suficiente, ainda houve um senhor do público a intervir. Disse que não só é hoteleiro como é pai e que vê pelo exemplo dos seus filhos que o problema está nos jovens de hoje não terem espírito de sacrifício, serem desinteressados, não quererem aprender nem trabalhar. Tive de me controlar muito para não lhe responder, é mesmo essa a ideia que ele tem dos jovens? Não sei que espécie de filhos o senhor tem mas se há algo que me tira do sério são generalizações. Isto comigo ao seu lado, com a única jovem presente na conferência. Achei desadequado ao tema em debate e de péssimo gosto, se não fosse interessada não estaria a marcar presença na conferência, pelo que acho que deve haver muito cuidado na forma como expressamos as nossas opiniões. Se o senhor dissesse que existe uma tendência actual para os jovens não quererem aprender nem se sacrificarem, não vou dizer que concordo. Teria de ser comprovado com dados estatísticos mas certamente estaria mais correcto do que jurar a pés juntos que nenhum jovem dos dias de hoje é competente, é dinâmico, é interessado. É óbvio que não falo só por mim, falo por outras pessoas que conheço e que são qualificadas e que mereciam uma oportunidade de trabalho mais digna. É triste ser esta a imagem que alguém tem e que quer passar a outras pessoas. Fiquei com sérias dúvidas de que espécie de educação este pai deu aos seus filhos.

Enfim, para ser sincera aprendi muito pouco sobre o tema, ficou muito aquém das minhas expectativas. A prova de que as expectativas devem ser evitadas ao máximo. Andou sempre à volta das competências que os profissionais devem ter, sempre à volta das "obrigações" e nunca dos direitos. Até que um dos oradores teve a feliz ideia de discursar e de ter uma opinião idêntica à minha. Disse que as pessoas não são commodities, que o know-how deve ser tido em conta e que diferentes níveis de qualificação exigem diferentes níveis salariais pois isso faz parte da motivação e de um melhor desempenho por parte de um colaborador. E pronto, isto tinha de ser no capítulo da liderança porque um verdadeiro líder sabe como motivar as pessoas e não, neste caso não falo só do aspecto monetário, falo de avaliações regulares, de acompanhamento, de formação interna e de outro tipo de incentivos.

Acho lamentável pessoas que reconhecem que os recursos humanos são o capital mais importante da hotelaria e que depois acham admissível pessoas qualificadas receberem o ordenado mínimo. E para terminar, quero frisar que esta última frase é uma generalização, pois tal como referi ainda existe esperança e há sempre excepções à regra.

E pronto, tinha de manifestar a minha opinião.

7 comentários:

  1. "o problema está nos jovens de hoje não terem espírito de sacrifício, serem desinteressados, não quererem aprender nem trabalhar. "

    Não acho de todo que isto seja mentira. Hoje em dia os jovens procuram empregos caídos do céu com ordenados chorudos. Querem ser aceites à primeira tentativa e são exigentes. Não aceitam mixuriquices. Não aceitam trabalhar num café à beira mar plantado porque não é um hotel. Ou num restaurante de um centro comercial, isso também "não é digno". E por isso, quem o faz nos passa à frente.

    E não acho um escândalo que uma pessoa licenciada receba o mesmo que alguém que fez o 12º ano. O que conta, principalmente em hotelaria na parte da operacionalização, não são as notas, não são as conferências a que vais, não são os estudos que te valem. É a experiência que tens. Toda essa formação apenas te será uma mais-valia em cargos superiores. Mas quer queiras, quer não, uma pessoa com o 12º ano mas com mais experiência do que tu passar-te-à à frente. Ainda para mais se vier dos CET ou algo do género em que têm uma melhor formação para operacionalizar em hotelaria.

    Ainda no Blind Dinner estive a falar, sem saber, com o director do hotel The Oitavos e ele diz, que pelo que vê, nós não saímos do curso superior assim tão preparados para o mercado de trabalho. E quem sai, foi porque trabalhou durante o curso. E eu tenho de concordar com ele.

    Por isso eu conheço quem trabalhe há bastantes anos só tendo ou o 12º ou mesmo o 9º ano e hoje é sub-chefe de bar do Farol Design Hotel. A formação que ele ganhou foi do seu trabalho (a última vez que o tinha visto estava a trabalhar num restaurante do Jumbo) e a que, possivelmente, o hotel lhe deu.

    Nós, jovens, é que temos umas palas e só vemos um caminho que consideramos o mais correcto e o que merece o melhor. E enganamo-nos redondamente. Se em vez de exigirmos direitos, lutássemos por eles... Se em vez de ficarmos parados a reclamar fôssemos atrás dos nossos objectivos... Sem nunca desistir. E isso, por incrível que pareça, até é uma coisa que se aprende na praxe, quem frequenta o ensino superior. Os miúdos levam com merda (literalmente) e não desistem, apenas gritam mais alto. São levados ao limite e continuam sem desistir. Os poucos que resistem a tudo, que se superam a si mesmos, esses acredito que se tenham livrado dessas palas da nossa juventude.

    E por isso, não posso concordar contigo porque a crise não é desculpa para tudo. O desemprego jovem existe porque os jovens são preguiçosos. O dos adultos já é mais complicado. E isso foi muito falado nas Conferências do Estoril, em que te são mostradas as mais variadas perspectivas de pessoas de todo o mundo. Largar um pouco esta cena de ser português e aprender com as outras culturas.

    Se puderes, pesquisa e vê os vídeos.

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    1. Que não é de todo mentira os jovens não terem espírito de sacrifício foi parte do que comecei por dizer, o que me faz confusão é a generalização de nenhum jovem ter esse espírito. Um empregado de mesa num café é um emprego digno como qualquer outro e nunca me ouviste referir o contrário, todos os empregos são dignos. Eu sou a primeira a trabalhar actualmente na área do turismo mas fora da hotelaria, e não é por isso que não aceitei o trabalho. Antes pelo contrário, estou muito grata por este achado, estou a aprender e a crescer imenso.

      Na minha opinião o que conta em hotelaria e tal como foi referido na conferência a que fui, são duas coisas: experiência profissional e formação técnica na área. Directores de hotel disseram inclusivamente que a tendência no futuro é ninguém ser aceite na recepção de um hotel ou no serviço de um restaurante sem ter um curso na área, isto porque existem competências que só são assimiladas nas formações, nos cursos médios ou superiores da área. Por outro lado, existem aspectos da operacionalização que só a experiência laboral te vai transmitir, e aí por muita formação que tenhas e por muito estudo, há coisas que só o contacto com a profissão te vai ensinar. Como tu dizes e muito bem, ninguém sai de um curso a achar que sabe tudo e que está 100% preparado para o mercado de trabalho porque não está, nem eu nunca disse que o curso é tudo. Ambos são importantes na área em que estamos.

      Quando falo em jovens apenas com o 12º ano, e devia ter referido no post, são jovens que entram no mercado de trabalho (sem qualquer experiência portanto). Isso foi referido e não concebo que essas pessoas sem estudos e sem experiência na hotelaria tirem o lugar a pessoas com estudos e sem experiência. Foi falado na conferência que o sector do turismo é dos que exige mais formação na área. Se há casos de pessoas que ganharam conhecimentos com a própria experiência laboral e sem estudos, sem dúvida que o há mas certamente levaram mais tempo a aprender do que alguém que começa a trabalhar com conhecimentos teórico-práticos na área. Sou portanto adepta da ideia que daqui por uns anos só sejam aceites pessoas com formação (seja ela média ou superior) na hotelaria. Da mesma forma, ainda que com níveis de responsabilidade diferentes, que não se aceita alguém a exercer as funções de médico sem ter estudado medicina ou alguém a projectar um edifício sem ter estudado arquitectura.

      Algum há-de ser o primeiro emprego, toda a gente começa do zero, sem experiência. O que acho escandaloso é pessoas que investiram anos da sua vida na formação numa área e não lhe ser dada a oportunidade de ganharem essa experiência. E aí não concordo quando dizes que o desemprego jovem acontece porque os jovens são exigentes e preguiçosos. Eu mesma posso não concordar com A ou com B mas se me aparece uma oportunidade remunerada eu aceito-a. O que há hoje em dia é uma oferta de empregos em que duas uma: ou ganhas experiência sem receberes nada e ainda tens de suportar custos de transporte e de alimentação (ou seja, pagas para trabalhar) ou tens de ter no mínimo dois anos de experiência, mais o conhecimento de 3 línguas, mais isto e aquilo e ganhas o ordenado mínimo. Resumindo, o desemprego jovem acontece ou porque não tens experiência suficiente e és automaticamente excluído ou porque não podes aceitar o facto de nada receberes em troca do teu trabalho (o que é perfeitamente aceitável, principalmente tendo em conta o custo dos transportes). Em hotelaria, receberes o ordena mínimo sem teres experiência já é uma bênção, o que oferecem na maioria dos casos é mão-de-obra gratuita.

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    2. Por fim, sou completamente apologista de que, com crise ou sem crise, não desistamos dos nossos objectivos porque a única coisa que cai do céu é a chuva. Quando abordei a importância de se receber acima do ordenado mínimo quando se tem formação superior, de facto naquilo que aprendi em gestão de recursos humanos e nas minhas leituras, é que isso é uma fonte de motivação importante. Pensando pela minha cabeça e com base no que já foi estudado, faz-me todo o sentido. O mais grave no meio disto tudo é que nem o ordenado mínimo hoje em dia oferecem porque tal como disse, ou é preciso experiência para o receberes ou é um emprego não remunerado.

      Assim que tiver oportunidade, vou pesquisar os vídeos de que falaste, porque é sempre bom ver outras perspectivas.

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  2. Por essa questão da experiência de trabalho é que tens os estágios, curriculares ou extra-curriculares. E sim, existem estágios remunerados e alguns até oferecem boas condições, é preciso é procurar bem. E quando não há cá em Portugal, há lá fora. Nós até temos o privilégio de estarmos numa área que nos permite trabalhar facilmente em qualquer lado. É preciso é arriscar. O que é um hoteleiro sem experiência multicultural? Um mero empregado, na minha opinião. Para mim, a hotelaria não são só hotéis, não são só check-in's e check-out's, não é só servir à mesa, não é só gerir seja lá o que for... É toda uma experiência de cidadãos do mundo. É uma vida que não cessa de aprender, sejam línguas, sejam hábitos culturais, tudo e mais alguma coisa. É uma vida de trabalho árduo e a lutar incessantemente pelos nossos objectivos, sejam eles profissionais ou económicos. É um desafio constante que nos faz provar a nós mesmo que conseguimos conquistar o mundo.

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    1. Um estágio de 2 ou de 3 meses não é valorizado no currículo e aí entram todas as questões que falei anteriormente. Quanto ao resto que disseste no último comentário sem dúvida que estou totalmente de acordo. Uma das vantagens da nossa área é precisamente termos a possibilidade de trabalhar noutros países, de conhecermos outras realidades. O post que escrevi é sobre a situação portuguesa e quanto a Portugal a minha opinião está bem formada. Fora do nosso país, há um Mundo a ser descoberto. Mundo esse que está nos meus planos de vida na altura certa.

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  3. Se um estágio de 2 ou 3 meses não é valorizado, faz de 6 ou 7. Ou então candidata-te mesmo a trabalhar. Este ano fiquei surpreendida pela positiva pela quantidade de caloiros que foi para estágio e até mesmo para trabalho.

    Um caloiro meu amigo está a ganhar bem para o que tempo que trabalha no Pestana em Lisboa.

    Por isso sim, e em relação ao teu último post, acreditar que conseguimos é tudo e só a tua atitude é que determina se deixas entrar ou não a frustração na tua vida. Porque quando Deus fecha uma porta, abre uma janela ;)

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    1. A tendência no primeiro ano é querermos aproveitar as "últimas" férias de Verão para descansar mas trabalhar logo no primeiro ano de curso é sempre uma boa opção.

      Sim, como disse é fundamental estarmos satisfeitos mas ao mesmo tempo não deixarmos de sonhar. Se não acreditarmos, dificilmente conseguimos. A vida volta não volta fecha-nos portas mas abre-nos essas tais janelas quando menos estamos à espera :)

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