Este blog fala não só de amor mas de relacionamentos e reflexões da vida em geral. Hoje irei falar sobre relacionamentos profissionais e reflectir sobre duas palavras que infelizmente estão em vias de extinção: respeito e sinceridade.
Alguns sabem outros não, que estava eufórica de ter conseguido um emprego na minha área e fui a primeira a admitir que apesar de ir fazer algo que gostava, tinha a perfeita noção que não ia ser perfeito e que nem tudo é um mar de rosas. Pois mas há limites, ainda não falei aqui publicamente do assunto porque sinceramente pouco ou nada me apetece e prefiro utilizar a minha energia e força naquilo que realmente é produtivo na minha vida e que me faz bem. Ainda assim, já passaram duas semanas desde que saí do hotel e não queria deixar de reflectir convosco sobre isto.
Estamos em crise é verdade, temos de ser polivalentes, também é verdade, os salários em Portugal e especialmente na hotelaria não são fantásticos, é outra das verdades. A minha pouca experiência laboral já me fez perceber isso. Contudo, existem limites para tudo na vida e no mundo do trabalho não é excepção, nem pode ser excepção. A pessoa é humilde, tem vontade de aprender, quer trabalhar, ganhar experiência e começar a ter a sua independência mas não nos podemos sujeitar a tudo. Sem querer aprofundar os pormenores todos, muito resumidamente houve total falta de transparência e de respeito. Não só na entrevista disseram-me que ia para recepção como nos dias seguintes apercebi-me que ia fazer de tudo, mas então diziam. Se aceitei ficar na recepção é porque era o que procurava, portanto não metam anúncios cujo cargo é recepção, mais vale dizerem que é "faz-tudo".
Como se isso já não chegasse as pessoas exploram, abusam da boa vontade e tiram partido da ingenuidade das pessoas. Eu sou ingénua neste mundo, admito. Não me importei de ficar os primeiros três dias a ter formação sem receber, agora dizerem-me que afinal são mais duas semanas e depois logo se vê? É brincar com as pessoas, não só tenho custos de deslocações e alimentação, como aceitei um emprego e não um estágio não remunerado, como os contratos eram mensais. Se de facto podia sair do dia para a noite, este período de experiência de nada serve. Que sentido faz não receber? Simplesmente é dinheiro que poupam e que entra nos cofres da empresa. Se a justificação é a minha falta de experiência, já o sabiam (que eu saiba não falsifiquei o meu currículo nem inventei conhecimentos) e tinham-me dito isso na entrevista e continua sem fazer sentido uma vez que ia ficar sozinha na recepção. Portanto a inexperiência justifica-se para a não remuneração mas para a responsabilização e atribuição de tarefas já não? Não posso deixar de achar piada. Outra coisa, não ter direito a hora de almoço porque a recepção não pode ficar sozinha. Existia apenas um recepcionista por turno. Tinha de comer um snack atrás da porta bem escondida e alerta pois se aparecesse um cliente tinha de interromper a minha refeição e sorrir para ele. Suponhamos que tenho um bocado de bife enfiado no aparelho. Ah que boa impressão que o cliente vai ter, é impossível não fazer humor com estas situações!!
Portanto, na entrevista tenho o perfil perfeito para o cargo e sou sobre-qualificada e fico no cargo de recepção pelo ordenado mínimo. Perfeito, para mim estava a proposta fabulosa para começar, fui eu que aceitei essas condições. Nos dias seguintes, afinal o perfil não é assim tão perfeito, afinal vou fazer de tudo um pouco inclusivamente posso vir a limpar quartos e afinal já nem recebo o ordenado mínimo porque estou a trabalhar para aquecer. O que vos tenho a dizer é que hoje em dia vale tudo, que esta situação mostre bem a situação em que o mercado de trabalho está. Eles sabem que as pessoas estão desesperadas e que sujeitam-se a tudo mas há limites. Felizmente não tenho a corda ao pescoço e contas para pagar porque quem tem infelizmente sujeita-se. As pessoas não têm palavra e por vezes temos de pensar em nós, acreditar num amanhã melhor e ter dignidade para dar o passo seguinte. É que aqui não está em causa as condições, apesar de medíocres. Eu já estive em estágios não remunerados, eu já presenciei um pouco de cada departamento. Já trabalhei 8h num dia, já trabalhei 10h, 12h num só dia e já estive 8 dias sem folgar e a ter de acordar todos os dias às 5h30. Tive de me sujeitar porque precisava do estágio para o meu curso. Em parte sabia para o que ia, outra parte nem tanto mas precisava daquilo. É assim a vida, mas tinha uma noção das condições pelo menos no que respeita a funções e a salários ou inexistência deles. Agora estou a falar-vos de um emprego, que tenho a certeza que ela estava a gostar do meu desempenho e que estava contente com o meu trabalho. Ela percebeu que eu queria aquilo e que era demasiado disponível e abusou. Tenho quase a certeza que ia adiar esta situação mais duas semanas e que passado esse tempo inventaria outra desculpa para adiar ou arranjava alguém com mais de um ano de experiência para o meu lugar.
Eu respeito as pessoas e a vida ensinou-me a exigir grande parte do mesmo respeito, senão mesmo a sua totalidade. Já me estou a estender e a entrar em pormenores, pronto para terminar a história ela não estava certamente à espera que eu desistisse e apanhei-a desprevenida. Teve a lata de negar tudo na minha cara e de distorcer a entrevista. Ainda disse que não estava ali como recepcionista e que fui eu que aceitei o estágio não remunerado, quando eu ingenuamente sugeri que não me importava de ficar um mês sem receber no caso de ser estágio profissional pois faltava-me um requisito. Ela foi a primeira a dizer que como essa possibilidade estava posta de parte íamos avançar para o contrato, mas claro eu ao dizer aquilo ela aproveitou-se. Nunca em momento algum se falou de não se assinar contrato e de nada receber. Sei que fui burra mas também sei o que disse e o que foi acordado e lembro-me extremamente bem das suas palavras mas não passam disso mesmo: palavras. As pessoas contam à sua maneira e colocam palavras na boca dos outros que não foram ditas. A senhora como foi apanhada desprevenida e não gostou de eu a confrontar com o que foi combinado e com o que estava a acontecer, indirectamente chamou-me mentirosa e tentou rebaixar-me. Ainda disse que a minha experiência era zero e só gostava de saber se é zero porque foi pedir referências minhas ao meu chefe de recepção do hotel onde estive anteriormente? As pessoas são muito engraçadas e como é óbvio fui educada, mantive a postura mas não deixei de dizer aquilo que devia ser dito. Estas pessoas têm de aprender uma lição, a bem ou a mal, eu também aprendi a minha.
Há que aprender com as nossas experiências de vida e o que corre mal só aconteceu com o objectivo de retirarmos lições, de aprendermos, de crescermos e de não repetirmos os mesmos erros. Certamente não vou ser tão ingénua numa próxima vez nem tocar mais nas palavras "não remunerado" não vá correr o risco de trocarem as minhas palavras e aproveitarem-se. Foram quatro dias de formação intensivos, aprendi um programa informático novo, matei algumas saudades de hotelaria e conheci pelo menos duas pessoas marcantes pela positiva. A que me ficou marcada pelo lado menos bom, não posso deixar de ver algum lado positivo e de ficar grata por indirectamente me ter ensinado tanta perspicácia, coragem, desconfiança e por me ter posto à prova.
Tenho a certeza que não só o desafio não terminou, como nada acontece por acaso. A prova disso é que no primeiro dia de formação no hotel, recebi um telefonema para uma entrevista. Eu inicialmente fiquei irritada porque pensei "tantos currículos que enviei e não fui chamada, logo agora que arranjei o que gosto tinham de me surgir duas oportunidades ao mesmo tempo?". Lá vem o ditado "não há fome que não dê em fartura". Após hesitar uns segundos enquanto a senhora do outro lado do telefone falava, optei por aceitar pelo sim pelo não. Estive mesmo quase para recusar e dizer que já tinha arranjado emprego, ainda bem que não o fiz. Até porque arrisquei, larguei o pseudo-emprego sem qualquer garantia e felizmente consegui :) começo no próximo mês e pior do que esta experiência duvido que seja. Já estou mais perspicaz e mais optimista. Não posso dizer que me fui demasiado abaixo com isto, sinceramente estive bem pior nos dias em que fui trabalhar e no dia em que saí do hotel do que nos seguintes. Não senti qualquer tipo de pena porque sabia que não era aquilo que eu queria e que não o que procurava nesta fase. Senti-me aliviada e satisfeita, senti-me com esperança. Houve alguma revolta e vontade de falar no assunto para avisar as outras pessoas a "abrirem o olho" mas só isso. Desculpem o tamanho deste post mas preciso disto para encerrar este assunto e para dar o meu testemunho. Preciso disto para libertar os sentimentos e não ficar com mágoa nem com rancor. Foi uma fase, apenas uma fase e felizmente foi curta.
Em relação ao novo emprego estou muito entusiasmada, é um part-time nos museus. Não é propriamente na área mas tem a vertente de atendimento ao público que eu adoro e sinceramente o que é um emprego na área hoje em dia? Temos de ser versáteis e já percebi que quanto mais diversificada for a nossa experiência melhor. Nesta entrevista fiquei com a sensação que não só interessa a minha formação, como a parte humana, os meus hobbies, expectativas, interesses, o facto de já ter feito voluntariado. Tudo isso interessou e foi valorizado e encaro isso como um começo positivo. Entretanto ao nível das condições, vou ganhar pouco menos que no hotel e trabalhar metade das horas, os museus também estão perto de casa. Além de que o programa tem a duração de 9 meses e não vou estar todos os meses com "a corda ao pescoço" e ansiosa a pensar se saio ou se fico. Para finalizar, apercebi-me que um part-time é o melhor para mim nesta fase, pois não só preciso de tempo para a tese como quero ter tempo para os meus projectos pessoais. E por falar em projectos pessoais, estou com algumas ideias que quero pôr em prática e sinto que Abril e Maio vão ser meses de mudança para melhor.
Há males que vêm por bem ;)
